Mostrando postagens com marcador 100 anos da imigração japonesa no Brasil. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador 100 anos da imigração japonesa no Brasil. Mostrar todas as postagens

Fukuoka

O site 100 anos de histórias vai me trazer muitas emoções neste ano, já percebi, pois permite que conheçamos histórias de outras famílias que são originárias da mesma província e Renato Yassuda deixou um comentário no meu perfil ontem, com convite para visitar o dele. A história de seu avô, Ryoichi Yassuda como um dos Pioneiros da Imigração é bela, honrada e emocionante. Além de surpreendente, pois ele chegou ao Brasil em 1906, ou seja, dois anos antes da chegada do famoso Kasato Maru.
Li sobre estes primeiros imigrantes, os que vieram sem as companhias de imigração e foram desbravadores do país no livro Ayumi - Caminhos Percorridos, sobre o qual escrevi aqui e lá.
Por falar em província, ontem um Shiraishi, que mora na Holanda, fez contato comigo através de um amigo brasileiro. Ele tem o Miyoji (miyodi, sobrenome) do meu Ditian e Furusato (furussatô, terra natal) e "furosato" (terra natal) da minha Batian... risos. Contei em detalhes .
Ah, por falar em nomes, Silvio Sano postou sobre as curiosidades da escolha dos nomes dos filhos dos isseis.

P.S. Sobre Fukuoka, no site constam alguns perfis linkados à província, mas o meu não entra!

Nikkei do Brasil é tema de livro


Li agora no Abril no Centenário. O livro "O Nikkei no Brasil", coletânea de textos sobre a imigração e a integração japonesas no Brasil, coordenada pelo professor Kiyoshi Harada, será lançado no dia 15 de janeiro, em um coquetel realizado no Hall da Assembléia Legislativa de São Paulo.

A obra, com 630 páginas e 50 ilustrações fotográficas, foi escrito por Harada e 11 autores de diferentes áreas de conhecimento: André Ryo Hayashi, Décio Nakagawa, Isidoro Yamanaka, Kazuo Watavane, Kyoko Nakagawa, Masato Ninomiya, Massami Uyeda, Reimei Yoshioka, Renato Yamada, Roque Nishida e Tuyoci Ohara. A capa da publicação é assinada pelo artista plástico Kazuo Wakabayashi

O livro traz 15 capítulos e, para cada tema ou episódio, são citadas diferentes personalidades do mundo artístico, cultural, político, esportivo, econômico, educacional e científico No final do livro, há uma relação das personalidades nikkeis, dos principais artistas plásticos e das escolas japonesas no Brasil.

Serviço:
  • Lançamento do livro: “O Nikkei no Brasil”
  • Onde: Hall da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo
  • Endereço: Av. Pedro Álvares Cabral, 201 - São Paulo
  • Quando: 15 de janeiro, às 19 horas
  • Quanto: Entrada Gratuita
  • Contato: www.centenario2008.org.br

100 anos de histórias


Recebi uma mensagem do escritor Silvio "Sam" Sano que deixo aqui:
"Oi, Sam. Acho que isso deve interessar muito a vc. Conhece o site da Editora Abril (www.100anosjapaobrasil.com.br ) sobre os imigrantes? Pois é, lá está a minha história, como tb pode estar a sua, vinculada a da comunidade nikkei e deve ser interessante. Que tal? Faça uma visita lá e aproveite para deixar um comentariozinho na minha. Caso interesse em colocar a sua, avise-me para que eu peça à jornalista para fazer-te o contato. E parabéns pelo laboroso, mas parecendo muito prazeroso, estimulo à auto-estima e à reflexão que tem feito."
O link para conhecer a galeria de Silvio, autor do livro Sonhos que de cá segue, está aqui.
Posto para agradecer, para deixar o convite para que leiam a história dele e igualmente para convidar a todos a contar a história de suas famílias imigrantes lá! Eu já fiz o meu perfil, está aqui.
E um feliz ano do Centenário da Imigração para todos! :)

Nossa Caixa apresenta exposição que homenageia comunidade japonesa

Em “Japão – um perto distante”, 13 jovens artistas expõem trabalhos que têm como influência a cultura japonesa pop, contemporânea e tradicional


O Banco Nossa Caixa apresenta a partir de 10 de dezembro a exposição “Japão – um perto distante”. A mostra é uma homenagem do banco ao Centenário da Imigração Japonesa, a ser comemorado em junho do próximo ano. Os visitantes poderão conferir obras de 13 jovens artistas, que abordam o Japão a partir de um olhar ocidental. A exposição acontece no Espaço Nossa Caixa Arte e Cultura até 11 de janeiro. A entrada é gratuita.

As 17 obras da exibição apresentam influências distintas. São fotografias, xilogravuras, impressões digitais, lápis de cor, grafite, estêncil e cerâmicas que reúnem elementos da cultura japonesa pop, contemporânea e tradicional. As peças foram espalhadas harmonicamente num único ambiente e demonstram alguns dos elos entre os dois países.

Com a exposição “Japão - um perto distante”, a Nossa Caixa reverencia a comunidade japonesa, que há cem anos contribui para o desenvolvimento econômico e cultural do país. A mostra é uma das primeiras atividades promovidas na cidade de São Paulo em comemoração ao centenário da imigração japonesa.

Manabu Mabe

A Nossa Caixa apóia também, por meio da Lei Rouanet, a restauração do antigo Colégio Campos Sales, localizado na Liberdade, e sua conversão no Museu de Arte Moderna Nipo-Brasileira Manabu Mabe. O museu será inaugurado em 2008 e fará parte dos eventos comemorativos do centenário da imigração japonesa no Brasil.

O espaço abrigará um acervo considerado por especialistas como um dos mais representativos da arte moderna nipo-brasileira, com obras de artistas como Handa, Tamaki, Tanaka, Susuki, Higaki, Fukushima, Ohtake, Shiró e Manabu Mabe, pintor japonês naturalizado brasileiro, reconhecido mundialmente por seus quadros abstracionistas de cores vivas e grandes dimensões.

Serviço:
  • “Japão – um perto distante”
  • Espaço Nossa Caixa Arte e Cultura
  • Rua Álvares Penteado, 70, 2º Mezanino
  • Segunda a sexta-feira, das 10h às 16h
  • De 10 de dezembro a 11 de janeiro
  • Entrada gratuita


Release da Assessoria de Imprensa da Nossa Caixa


Associação completa 60 anos com os olhos no Centenário

Outubro 25, 2007

Bárbara Nomura, da Folha Obara

A Associação Cultural e Esportiva Nipo Brasileira de Indaiatuba (ACENBI), realizou a festa de comemoração de 60 anos de fundação, no último domingo, dia 14 de outubro. A festividade foi feita entre os associados na Sede Social da própria entidade. Na ocasião, o presidente da ACENBI, Edson Miyamoto, fez um discurso e apresentou a Cápsula do Tempo, que será aberta no ano de 2047, quando a fundação completar 100 anos.

A comemoração de aniversário recebeu o nome de “Diamante” devido às bodas de diamante celebrado no oriente, quando um casal completa 60 anos de união. Para a ACENBI, não é diferente, pois esta trajetória deu-se por um belo casamento entre o Brasil e Japão.

O presidente disse sobre a importância da entidade se modificar para acompanhar o novo ritmo de vida e assegurar o interesse de todos, principalmente agora que cultura japonesa está em evidência, “sendo assim também é necessário manter o nosso maior tesouro, que é o ensino dos mais velhos, a honra e o caráter acima de tudo”, destacou Miyamoto.

O presidente da Câmara em exercício, o vereador Maurílio Gonçalves Pinto (PDT), diz sentir o quanto é gratificante a comemoração dos 60 anos. “Hoje as culturas não têm mais separação, e a comunidade japonesa desta cidade consegue mostrar, separar a cultura, e ensinar, o que é muito bom para aprender, garantindo as tradições. Todo este trabalho é muito gratificante”, diz.

Na abertura oficial os presentes na mesa de solenidade puderam falar a respeito do aniversário e o que esperam daqui a 40 anos. Estava presente também, o presidente da Associação Cultural Nipo Brasileira de Campinas, Tadayoshi Hanada - representando o presidente do Bunkyo de São Paulo. Hanada disse em seu discurso que as associações são irmãs, sendo que “o Nipo de Campinas tem 56 anos, portanto temos a ACENBI como uma irmã mais velha”.

Cápsula do tempo e o Censo
A idéia de transmitir às gerações futuras mensagens sobre a atual Associação fez surgir a Cápsula do Tempo, feita de aço inox, que será deixada intacta 1,50 metro abaixo do solo do Centro Esportivo da Associação.

Durante a festividade os associados puderam deixar cartas com destinatário, fotos, jornais, sonhos, preocupações e pequenos objetos. Para quem não teve a oportunidade de depositar uma mensagem, a Cápsula permanecerá aberta por duas semanas. Posteriormente será colocada próxima ao Monumento de Aniversário de 50 anos da Associação.

Para as comemorações foi feito um censo, e de acordo com o presidente Miyamoto, a cada aniversário de dez anos é feito este recenseamento, “isto para sabermos se houve crescimento de famílias japonesas em Indaiatuba, e também para ver as novas características dos associados”, explica.

O recenseamento da colônia é feito em forma de mutirão, onde cada grupo de associados se divide e passa nos bairros da cidade, e no “boca a boca” perguntam se as pessoas conhecem famílias japonesas. O resultado é divulgado no livro de comemoração de aniversário. Os itens avaliados são: quantas pessoas vivem na zona urbana e rural, a qual geração pertence (primeira a quarta, ou mestiço), a profissão e quantos são em homens e mulheres.

Outras atividades
Após os discursos das autoridades, foi feita uma homenagem aos fundadores da ACENBI, e aos presidentes. Para o ex-presidente, Yamaki Takashi, que dirigiu a entidade entre 1995 e 1996, a colônia cresceu de forma certa. “Só houve melhoramento. É preciso sempre agradecer aos que por aqui passaram e aos que vão continuar a tradição”.

As apresentações culturais foram realizadas durante o almoço. Tiveram a participação do coral das senhoras, de danças e karaokê. A apresentação que encantou a platéia foi o Nitigo Soran, sendo reapresentado pelos jovens no final do evento.

História da Associação
Em 1947, dentro da Fazenda Pau Preto, foi criada a entidade japonesa, “Associação Japonesa Ituana” já que na época Indaiatuba era ligada a Itu. O objetivo inicial era de unir as famílias para uma convivência mútua e de preservação da cultura.

Além disso, foi criada a Escola de Língua Japonesa. Em 1952 o nome da entidade é modificado para Associação Japonesa de Indaiatuba, e neste mesmo ano, práticas esportivas como o beisebol foram implantadas. No ano seguinte foi construída a primeira sede da associação dentro da Fazenda.

Entretanto, nos anos seguintes, as famílias se aproximaram mais da área central da cidade e, ao final da década de 1950, a Prefeitura Municipal cedeu um terreno à comunidade, onde foi construída a nova sede. Dez anos depois a Associação passou a se chamar Esporte Clube Nipo Brasileiro.

Na década de 1960 e início de 70, através de rendas obtidas por festas e por doações feitas pelos associados, a comunidade compra um terreno para construir o centro esportivo.

Foi então em 1982 que houve a mudança de nome para Associação Cultural e Esportiva Nipo Brasileira de Indaiatuba. Atualmente a entidade possui 250 famílias associadas, totalizando 790 pessoas.

Fusão entre o Oriente e o Ocidente

ANDYE IORE E SIMONI SARIS
Da Gazeta do Povo on line

Os japoneses que ajudaram a desbravar as terras vermelhas do Norte do Paraná fizeram muito mais do que contribuir para o progresso econômico da região. Aos poucos, os costumes cultivados pelos orientais foram deixando os núcleos fechados dos lares e hoje, as artes, a culinária e os costumes nipônicos foram incorporados pelos ocidentais. “A partir do momento em que os elementos da cultura japonesa são incorporados pelos não-descendentes, a cultura torna-se eterna. Temos a certeza de que não vai acabar”, comemora Mity Shiroma, que é coordenadora do Londrina Matsuri, festa japonesa que acontece anualmente em Londrina e já completa cinco edições.

Mity confirma que a aproximação do Oriente com o Ocidente geralmente se dá pela culinária, mas esse é só o primeiro passo para o contato com todos os elementos culturais do Japão. “Todo mundo é pego pelo estômago. Aqui, ninguém foge à regra.”

A comunidade nikkei em Maringá é formada por aproximadamente 20 mil pessoas. O principal ponto de encontro é no clube Associação Cultura e Esportiva de Maringá (Acema).

A colônia é exemplo de como é possível integrar culturas diferentes e da participação nipônica no desenvolvimento estadual como ações sociais (asilos), esportivas (beisebol, tênis de mesa, judô) artísticas (dança, canto, artes), gastronomia, agrícolas, políticas, entre outras. “Os setores com mais influência são a cultura e a gastronomia”, aponta o professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Maringá

(UEM), João Fábio Bertonha. “Nunca vi uma cidade que come tanto sashimi e sushi como em Maringá.”

Japonês de coração, corpo e alma


Influência oriental está presente na cultura, gastronomia, política e economia do Paraná

por ANDYE IORE E SIMONI SARIS
Da Gazeta do Povo on line

O artista Antônio Luz dos Reis: inspiração oriental
O artista Antônio Luz dos Reis: inspiração oriental
Londrina e Maringá – A imigrante centenária Tidori Kinsu e o artista plástico Antônio Luz dos Reis, de 43 anos, têm mais em comum do que possa parecer. A mulher de 100 anos não conhece o desenhista, apesar de ambos morarem em Londrina, no Norte do Paraná. Mas Reis sabe tanto sobre o país de origem da senhora Kinsu como se ele próprio tivesse nascido no Japão.

Reis aprendeu a ser japonês ainda criança. “Comecei desenhando com amigos na escola quando tinha 7 anos. Via aqueles mangás e queria fazer igual”, conta o filho de família afrodescendente migrante baiana, que chegou ao Paraná no final da década de 1950. O artista plástico vive cercado de ícones da cultura nipônica. Em seu apartamento há objetos como o calçado de madeira geta, acessórios de samurai e pergaminho gohonzon. É fã do cinema oriental – os cineastras Shohei Imamura e Akira Kurosawa são os preferidos – e do teatro Kabuki. Uma de suas séries tem 15 gueixas, pintadas entre o final da década de 1980 e o início da de 1990.

Fotos: Gilberto Abelha/ JL
Fotos: Gilberto Abelha/ JL / Tidori Kinsu, imigrante japonesa de 100 anos: cultura preservada
Tidori Kinsu, imigrante japonesa de 100 anos: cultura preservada
Tidori Kinsu chegou ao Brasil em 1925, aos 19 anos, recém-casada e com um filho de 3 meses nascido a bordo do Kawatsu Maru, o segundo navio de imigrantes japoneses a aportar no país, seguindo o rastro do Kasato Maru, que chegara a Santos 17 anos antes. O sonho dourado no país ocidental foi mais difícil do que o esperado. Depois de passar pelo interior de São Paulo, o jovem casal chegou ao Paraná. A filha de Tidori, Suelo Kinsu Sato, conta a história da mãe, que ainda tem dificuldade para falar e entender o português. “Eles achavam que a vida aqui seria mais fácil. Todos falavam que no Brasil se ganhava bastante dinheiro, mas não foi bem assim. Meu pai teve uma grande decepção.” A falta de dinheiro e a dificuldade de adaptação à nova terra foram alguns dos obstáculos para criar os 14 filhos que tiveram. Sem contar a saudade de casa.

A história da separação familiar se repetiu anos depois. Atraídos pela oportunidade de trabalho, os filhos de Tidori voltaram à terra natal da mãe. Sueko ficou pouco tempo, mas a filha dela está no Japão há 15 anos. “A minha neta, de quase 14 anos, é japonesa nata. Uma das minhas irmãs também foi para o Japão há 16 anos e não pensa em voltar”, diz.

Leia mais


Fusão entre o Oriente e o Ocidente

160 mil nipônicos vivem no PR

Histórias como a de Tidori contam também um pouco da participação dos imigrantes japoneses na colonização do estado do Paraná, em especial as regiões Norte e Noroeste. Em Maringá, pioneiros construíram trajetórias de trabalho e sucesso em diversos setores da sociedade. O empresário Takashi Suzuki, 84 anos, chegou ao Brasil aos 9 anos, junto com a família, atraída pela possibilidade de enriquecimento, que prometia ser rápido. “O que atraía os japoneses ao Brasil era a notícia de que havia uma árvore carregada de ouro [o café]”, lembra. A intenção dos japoneses era trabalhar por cinco anos e voltar ricos para casa. Mas a lida na lavoura rendia pouco dinheiro, e eles tinham dificuldades extras de adaptação, com hábitos, comida, idioma e até fisionomia diferentes dos demais imigrantes e dos próprios brasileiros.

Suzuki tem sua história registrada em nove folhas de papel escritas por ele mesmo no idioma oriental. “Já fui quatro vezes ao Japão. Visitar lá é bom, mas não existe lugar melhor para morar que o Brasil”, conta.
Fotos: Gilberto Abelha/ JL / Tidori Kinsu, imigrante japonesa de 100 anos: cultura preservadaLeia mais

Uto, a primeira brasileira de olhos puxados

Concebida no Japão e nascida no Brasil, Uto Kinjo viveu desde cedo os sacrifícios dos imigrantes japoneses

Lenita Outsuka, especial para o Jornal da Tarde

SÃO PAULO - Em 17 de junho de 1908, o Kasato Maru chegou ao porto de Santos. Mas era noite e os cerca de 800 japoneses a bordo tiveram de esperar o dia amanhecer para desembarcar. Da amurada do navio, a jovem Kame viu fogos de artifício emimigra terra e pensou que os brasileiros faziam festa pela chegada dos imigrantes. Só mais tarde descobriu que foguetório, nos junhos brasileiros, é coisa normal...

Kame e Ushisuke Miadaira, marido e mulher, também não sabiam que a família iria crescer em breve e que seria deles a primeira nissei brasileira: Uto nasceu em 28 de novembro de 1908.

Concebida no Japão e nascida no Brasil, Uto – que mais tarde viraria Bartira – não conheceu as privações de 52 dias no mar. Mas viveu desde cedo os sacrifícios dos imigrantes: três dias depois de dar à luz, Kame voltou ao trabalho na lavoura, na Fazenda Floresta, em Itu, para onde foram enviadas outras 23 famílias, a maioria proveniente da ilha de Okinawa, que viajaram no Kasato Maru.

A história dos Miadaira foi resgatada pela neta de Uto, a jornalista Leda Márcia Arashiro. Imbuída do espírito das ne-san (irmã mais velha, aquela que assume a família na ausência da matriarca), ela decidiu contar aos irmãos e primos a história da família, que a maioria dos descendentes desconhecia. “Não pensei em escrever um livro”, revela. Mas não descarta a possibilidade. Afinal, a vida dos Miadaira tem inúmeros pontos em comum com a de outras famílias imigrantes que queriam realizar um sonho no Brasil. E eles conseguiram.

Leda Márcia conta que começou a pesquisar o assunto há muito tempo. No papel, a história começou a tomar forma em 2003. O interesse veio da infância: “Minha mãe trabalhava o dia inteiro e eu passava o dia com minha avó. Ela contava muitas histórias e, como não sabia ler em português, pedia para eu ler notícias de jornal para ela.”

Uto ganhou o sobrenome Kinjo em 1926,aos 18 anos, quando casou com Kosei, jovem culto e apaixonado pelas letras, recém-chegado do Japão. Um achado, na época. Os imigrantes vinham com a família, geralmente casais jovens com filhos pequenos, e era raro um rapaz solteiro disposto a casar com uma brasileira. Os Miadaira, na época, já tinham feito fortuna, graças a uma alta no preço do arroz e às plantações de banana que iniciaram em Cedro, subdistrito de Juquiá – é curioso acompanhar os deslocamentos dos okinawanos pelo interior de São Paulo: de Itu foram para Santos e ajudaram a construir a ferrovia que atravessa o Vale do Ribeira. Isso explica a grande quantidade de descendentes nipônicos na região. E foram os okinawanos, também, que introduziram o cultivo da banana na região.

Mas Uto e Kosei não ficaram em Cedro. Dentro da tradição japonesa, o ni-san (o filho primogênito) herda os negócios da família e fica responsável pelo bem-estar dos pais. E Uto, apesar de ser a filha mais velha, era apenas uma mulher. E não teria parte na herança.

O casal foi plantar bananas em Alecrim, em terras arrendadas. Tempos difíceis. “No fundão do Vale do Ribeira, sem luz, com a casa sujeita a inundações, trabalhando o dia inteiro, a 12 quilômetros da estrada de ferro que levava a Santos, ponto mais próximo da civilização”, descreve Celso Kinjo, o filho mais novo do casal. Essa luta se estendeu até 1936, quando a família, agora com três filhos (Luzia, Laura e Armando), foi cuidar de um entreposto de distribuição de bananas em Santos. Mais três anos e todos vieram para São Paulo, para se instalar na Vila Votorantim, uma rua em forma de ferradura e que começava e terminava na rua Barão de Duprat, na região do Mercado Central. Ali nasceram Araci, Humberto e Celso.

As lembranças de Leda Márcia com o avó são desse período na Vila Votorantim. Os okinawanos do interior queriam que os filhos estudassem, mas nem sempre havia escolas onde moravam. Então, mandavam os filhos para a casa dos Kinjo. Uto, sem nenhuma ajuda financeira, acolhia, alimentava, cuidava e sustentava todos – e todos permaneciam por anos a fio, até completar os estudos. A neta conta que conheceu muitos “tios” que nem faziam parte da família. As filhas, já crescidas, ajudavam. E ainda sobrava tempo para fazer amizades e aprender novas receitas.

Cozinheira de mão cheia, Uto preparava excelentes pratos japoneses. Mas fazia também charutinhos de uva, esfilhas, feijoada, paella... A Vila Votorantim reunia imigrantes das mais variadas nacionalidades e as mulheres trocavam receitas, ingredientes e confidências. Nesse período, adotou o nome de Bartira – explicou à neta que tinha gostado da história desse nome, mas Leda Márcia nunca soube se era a história da índia Bartira, a mulher de João Ramalho, português que viveu com o índios Guaianá na região de São Vicente.

A avó, para Leda Márcia, era uma mulher forte, batalhadora. E alegre, sempre disposta a contar histórias. Interessada, informada: ouvia rádio e sempre pedia para a neta ler os jornais para ela. Uto Miadaira faleceu em 16 de fevereiro deste ano. Faltou muito pouco para ela festejar o centenário, junto com o centenário da imigração.

Especial sobre imigração japonesa no JT


Hoje tem um especial sobre imigração japonesa no Jornal da Tarde, vale a pena conferir os temas:


A oportunidade é real ou só aparente?

Potencial do mercado japonês para o álcool encanta autoridades e tem números embriagadores. Mas há quem recomende cautela

Mulheres nikkei dão brilho à festa

Chieko, Tomie, Tizuka e Luiza já se preparam para o dia do centenário

Caminho de volta ainda é atraente

Japão deixou de ser o Eldorado, mas continua atraindo brasileiros

52 dias de viagem. E a chegada

Livro conta a história dos primeiros imigrantes que chegaram ao País

Enfim, o sonho se realizou

Conheça a história dos Miadaira, e da primeira nissei nascida no Brasil

No mundo da moda, a integração é total

Grandes grifes apresentam referências nipônicas e não causam mais espanto

Um nissei pronto para fazer história

Mesatenista Hugo Hoyama pode chegar ao seu nono ouro nos Jogos do Rio


Texto do Cônsul por ocasião do cinqüentenário da Imigração no Rio Grande do Sul

"

Cinqüentenário da imigração
japonesa no Rio Grande do Sul:
reconhecimento
da contribuição para o Estado

Hajime Kimura*


No dia 20 de agosto de 1956, vinte e três jovens japoneses cheios de aspirações desembarcaram no porto de Rio Grande. Embora por aqui já houvesse alguns japoneses, este foi o começo sistemático da imigração japonesa no Rio Grande do Sul. E hoje, às vésperas de completarmos cinqüenta anos de imigração, temos cerca de mil e quinhentos japoneses e três mil descendentes em todas as regiões do Estado. A principal vocação dos japoneses foi e continua sendo a agricultura, mas à medida que o tempo foi passando, eles começaram a contribuir para o desenvolvimento do Estado também em outras áreas.

O Governo do Estado do Rio Grande do Sul, as Prefeituras e a comunidade gaúcha estão gentilmente colaborando com as comemorações do Cinqüentenário da Imigração Japonesa e tenho certeza de que esse é um ato de reconhecimento ao trabalho dos japoneses. Ao mesmo tempo que quero agradecer às autoridades e à comunidade gaúcha por toda a colaboração que tem sido dada ao evento, quero externar meus parabéns à comunidade japonesa pelo seu valioso trabalho.

Estamos comemorando o Cinqüentenário em agradecimento ao trabalho feito pela comunidade japonesa e para consolidar a base ainda maior do sucesso dessa comunidade. Porém, o objetivo das festividades não pára por aí. Nosso grande objetivo é fortalecer ainda mais os já fortes laços existentes entre o Rio Grande do Sul e o Japão, e, por meio deste esforço, contribuir para a intensificação das relações bilaterais entre o Brasil e o Japão. Quando o Primeiro Ministro Koizumi visitou o Brasil em 2004 e no ano seguinte o Presidente Lula visitou o Japão, ambos concordaram em revitalizar nossas relações bilaterais, estagnadas por duas décadas.

Muitos esperam que o Centenário da Imigração Japonesa no Brasil em 2008 seja uma grande oportunidade para esta revitalização. Mas os primórdios da revitalização estão aqui, no Rio Grande do Sul. Parabéns à comunidade japonesa por este Cinqüentenário. Obrigado à comunidade gaúcha pela colaboração. E vamos aproveitar este grande momento para liderar o movimento da revitalização, pois, afinal, foram muitos os grandes movimentos que começaram pelo Rio Grande do Sul!"


*Cônsul do Japão