Japonês de coração, corpo e alma


Influência oriental está presente na cultura, gastronomia, política e economia do Paraná

por ANDYE IORE E SIMONI SARIS
Da Gazeta do Povo on line

O artista Antônio Luz dos Reis: inspiração oriental
O artista Antônio Luz dos Reis: inspiração oriental
Londrina e Maringá – A imigrante centenária Tidori Kinsu e o artista plástico Antônio Luz dos Reis, de 43 anos, têm mais em comum do que possa parecer. A mulher de 100 anos não conhece o desenhista, apesar de ambos morarem em Londrina, no Norte do Paraná. Mas Reis sabe tanto sobre o país de origem da senhora Kinsu como se ele próprio tivesse nascido no Japão.

Reis aprendeu a ser japonês ainda criança. “Comecei desenhando com amigos na escola quando tinha 7 anos. Via aqueles mangás e queria fazer igual”, conta o filho de família afrodescendente migrante baiana, que chegou ao Paraná no final da década de 1950. O artista plástico vive cercado de ícones da cultura nipônica. Em seu apartamento há objetos como o calçado de madeira geta, acessórios de samurai e pergaminho gohonzon. É fã do cinema oriental – os cineastras Shohei Imamura e Akira Kurosawa são os preferidos – e do teatro Kabuki. Uma de suas séries tem 15 gueixas, pintadas entre o final da década de 1980 e o início da de 1990.

Fotos: Gilberto Abelha/ JL
Fotos: Gilberto Abelha/ JL / Tidori Kinsu, imigrante japonesa de 100 anos: cultura preservada
Tidori Kinsu, imigrante japonesa de 100 anos: cultura preservada
Tidori Kinsu chegou ao Brasil em 1925, aos 19 anos, recém-casada e com um filho de 3 meses nascido a bordo do Kawatsu Maru, o segundo navio de imigrantes japoneses a aportar no país, seguindo o rastro do Kasato Maru, que chegara a Santos 17 anos antes. O sonho dourado no país ocidental foi mais difícil do que o esperado. Depois de passar pelo interior de São Paulo, o jovem casal chegou ao Paraná. A filha de Tidori, Suelo Kinsu Sato, conta a história da mãe, que ainda tem dificuldade para falar e entender o português. “Eles achavam que a vida aqui seria mais fácil. Todos falavam que no Brasil se ganhava bastante dinheiro, mas não foi bem assim. Meu pai teve uma grande decepção.” A falta de dinheiro e a dificuldade de adaptação à nova terra foram alguns dos obstáculos para criar os 14 filhos que tiveram. Sem contar a saudade de casa.

A história da separação familiar se repetiu anos depois. Atraídos pela oportunidade de trabalho, os filhos de Tidori voltaram à terra natal da mãe. Sueko ficou pouco tempo, mas a filha dela está no Japão há 15 anos. “A minha neta, de quase 14 anos, é japonesa nata. Uma das minhas irmãs também foi para o Japão há 16 anos e não pensa em voltar”, diz.

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Histórias como a de Tidori contam também um pouco da participação dos imigrantes japoneses na colonização do estado do Paraná, em especial as regiões Norte e Noroeste. Em Maringá, pioneiros construíram trajetórias de trabalho e sucesso em diversos setores da sociedade. O empresário Takashi Suzuki, 84 anos, chegou ao Brasil aos 9 anos, junto com a família, atraída pela possibilidade de enriquecimento, que prometia ser rápido. “O que atraía os japoneses ao Brasil era a notícia de que havia uma árvore carregada de ouro [o café]”, lembra. A intenção dos japoneses era trabalhar por cinco anos e voltar ricos para casa. Mas a lida na lavoura rendia pouco dinheiro, e eles tinham dificuldades extras de adaptação, com hábitos, comida, idioma e até fisionomia diferentes dos demais imigrantes e dos próprios brasileiros.

Suzuki tem sua história registrada em nove folhas de papel escritas por ele mesmo no idioma oriental. “Já fui quatro vezes ao Japão. Visitar lá é bom, mas não existe lugar melhor para morar que o Brasil”, conta.
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