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Esse tipo de atividade possui mais de mil anos de desenvolvimento | ||||||||
(Foto: Divulgação) A arte de se criar jardins, introduzida ao Japão por volta dos séculos VI ou VII, por meio de imigrantes chineses e coreanos, tomou forma e conceitualizações mais definidas durante os tempos áureos dos palácios da aristocracia da Era Heian (794~1185). Seus jardins eram construídos na parte sul da propriedade (nantei) e a sua principal característica era o grande espaço aberto, normalmente coberto com areia branca, parte pela limpeza estética proporcionada por esta, e parte para facilitar uma grande variedade de eventos realizados pelos aristocratas, como recitais de poesia e torneios de arco e flecha. Contudo, o que mais chama atenção neste tipo de jardim é a presença de uma grande lagoa com uma ilha no centro. Esta ilha era ligada às extremidades por pontes. De fato, como é possível se ver na literatura, naquela época, uma das palavras para a denominação “jardim” era shima (ilha). E como essas lagoas também eram utilizadas para passeios em pequenas embarcações, esse tipo de jardim é conhecido atualmente como Chisen Shûyû Teien, ou Jardim de passeio na lagoa. Histórias e fábulas Mais tarde, o idealismo da Era Heian tornou-se realidade. Durante as Eras feudais de Kamakura (1185~1333) e Muromachi (1333~1568), os jardins mais construídos no Japão eram aqueles provenientes dos conceitos do Zen-Budismo. Estes são chamados de kare-san-sui (literalmente, seco-montanha-água), nome que alude à composição deste jardim, que cria um cenário metafórico de montanhas e águas (rios ou mares), sem que nenhuma água real seja utilizada. A areia do chão é varrida, representando o fluir das águas, e as pedras dispostas de forma que remetam a montanhas. Esse tipo de jardim, normalmente possui uma extensão pequena, não sendo próprio para que se passeie por ele, mas sim para que seja explorado mentalmente. Muitas fábulas Budistas podem ser transmitidas pela disposição de seus componentes e sua confecção e manutenção é, geralmente, tida como um exercício de meditação para os monges Zen, os quais consideram manter o jardim limpo e organizado um meio de manter a alma pura e concentrada. Durante o fim da Era Muromachi e toda a Era Azuchi Momoyama (1569~1600), a construção de outro tipo de jardim se tornou comum: o jardim voltado para a cerimônia do chá. Com o desenvolvimento desta prática e sua constante realização pelos guerreiros e aristocratas, um tipo de jardim que configurasse apropriadamente as casas de chá se tornou necessário. Dessa forma, o jardim do chá, ou roji (caminho), é famoso por ser encontrado na entrada das casas de chá. Suas principais características são as pedras no chão, que demarcam o caminho da rua à casa (tobi-ishi), e as luminárias de pedra (ishidôrô), ambos elementos típicos da jardinagem japonesa. Esse tipo de jardim tinha como objetivo preparar psicologicamente seu visitante para a prática do chá, pois é um caminho que o acalma e o concentra até a entrada no estabelecimento. Cultura e beleza Durante a Era Edo (1603~1867), houve uma grande urbanização do país e algumas pessoas melhores colocadas socialmente passaram a viver em cidades (chônin). Por isso, a construção de amplos jardins foi se tornando impossível, e a arte da jardinagem acabou sendo levada para dentro de casa. Os chamados jardins tsubo (uma medida de espaço de 3,3 metros), pois concentravam toda a beleza e a conceitualização dos grandes jardins num espaço restrito, dentro de um cômodo aberto, são resultado desses fatores. Sua principal característica é a concentração de diversos elementos de tipos anteriores de jardins, para a apreciação visual e a ponderação mental por parte de seus apreciadores, sejam eles os donos do jardim, seus convidados ou clientes. Além disso, ostentam cultura e beleza. Embora tenhamos nos restringido apenas a esses tipos de jardins, há diversos outros jardins japoneses, pois esse tipo de atividade possui mais de mil anos de desenvolvimento e sua beleza e complexidade são amplamente estudadas e apreciadas por curiosos de todo o mundo.. |
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Colaboradoras: Pedro Ferreira Perrenoud Marques |