Mais uma vez Indaiatuba valorizando a cultura dos imigrantes japoneses:
Escolas Municipais irão abordar história da imigração japonesa |
Alunos das escolas municipais de Indaiatuba pegam este ano, uma “carona” no Kasato Maru, navio que desembarcou em Santos, em 1808, trazendo para o Brasil os primeiros imigrantes japoneses Foto: Reprodução |
Alunos das escolas municipais de Indaiatuba pegam este ano, uma “carona” no Kasato Maru, navio que desembarcou em Santos, em 1808, trazendo para
o Brasil os primeiros imigrantes japoneses. As Unidades Escolares se preparam para abordar o assunto, que transformou a vida de milhares de japneses, mas que também mudou para sempre hábitos culturais brasileiros, como a culinária, os
esportes e até a religião.
Para dar início a este processo de aprendizagem, a secretária de Educação, Jane Shirley Escodro Ferretti recebeu em seu gabinete na última semana o escritor Neir Ilelis, autor do livro “Arroz e Café – O Menino Japonês”. Neir visitou a sede da secretaria de Educação acompanhado do presidente da Associação Cultural, Esportiva Nipo-Brasileira de Indaiatuba, Edson Yoshitsugui Miyamoto e do diretor de Projetos Institucionais
da Ilelis Editora, Lafayette Guedez.
O livro, escrito em português e japonês, e ilustrado em forma de mangá por Açunciara Aizawa Silva, conta a história de Shigueo, um menino do Japão que, aos 12 anos, atravessa o oceano com a família, rumo a um país totalmente desconhecido: o Brasil.
A obra, garante Neir, não foi escrita pensando nas comemorações do Centenário da Imigração Japonesa, mas acabou ganhando o selo “1908-2008: 100 Anos da Imigração Japão Brasil”. “O livro é uma ficção e foi baseado nos relatos que um amigo me fez sobre a vinda do Kasato Maru para o Brasil. Quando terminei, no entanto, descobri que esta também é a história de muitos imigrantes japoneses e assim percebi a amplitude do relato”, conta o autor.
No livro, a vida de Shigueo é relatada em três partes. A primeira conta a história do garoto e sua família, trabalhando na colheita de arroz, no Japão. A segunda parte do livro fala da vinda da família para o Brasil; a travessia do oceano rumo a um país totalmente desconhecido, e as expectativas de um menino repleto de sonhos. A terceira e última parte fala da chegada de Shigueo ao Brasil; do que a família encontrou por aqui, da adaptação a um país tão culturalmente diferente do Japão e da colheita do café.
“O livro será utilizado em sala de aula como parte dos estudos sobre a imigração japonesa, o que poderá ser explorado nas aulas de Língua Portuguesa ou mesmo através de alguns dos nossos projetos, como o Ler Faz Bem. Porém, pretendemos abordar o centenário em seus diversos aspectos e em várias disciplinas”, lembra Jane.
Haicai
Cada capítulo de “Arroz e Café – O Menino Japonês” é aberto por um Haicai, pequeno poema japonês, escrito em três versos, dois com cinco sílabas e um (o do meio) com 7 sílabas, totalizando 17 sílabas. No Haicai clássico, os versos simbolizam ações da natureza e são uma sequência de fatos.
No primeiro, o haicaista dá a cena geral; no segundo algo acontece (a onda quebra, a flor desabrocha, a mulher sorri); e o terceiro verso mostra o sabor desta experiência para o autor. No Japão, há haicais que datam do século 15, mas a poesia se espalhou por todo o mundo. Os inciciantes podem construí-lo sem tanto rigor silábico e certamente, o assunto será um dos aspectos abordados pelos alunos da rede municipal de ensino.
E assunto é o que não vai faltar em sala de aula. Além do que relata os próprias páginas dos livros de História, a aproximação Brasil-Japão rendeu muitos frutos. Até de forma literal. No Kasato Maru, por exemplo, os japoneses trouxeram 50 tipos diferentes de alimentos; entre eles a maçã Fuji, a uva-itália e a poncã. Depois,
eles incrementaram a produção do que já existia aqui e assim cultivaram como ninguém produtos como alface, tomate, chá preto e, claro, frangos e ovos.
As tradições, incluíram ainda a religião -- o budismo – e hábitos, como
a meditação e os esportes. Mangás e bonecas japonesas também fazem a festa de
crianças e adolescentes brasileiros e tudo parece não parar no tempo, já que até
hoje brasileiros e japoneses adotam os hábitos um do outro.
Um exemplo é a proliferação dos restaurantes japoneses, frequentados por muitos
brasileirinhos, com seus sushis e sashimis. Tudo sem contar o impressionante
avanço tecnológico do povo japonês, que inventou o metrô e mais uma centena de
produtos que tornaram o mundo bem mais rápido.
Enfim, há assunto para o ano inteiro, reforçado por um dado específico: a forte presença da colônia japonesa em Indaiatuba. “Comemorar o Centenário da Imigração Japonesa será um prazer e uma honra para toda a nossa equipe. Já os alunos recebem isso como um aprendizado para toda a vida, já que vivenciam muitos dos aspectos culturais dos japoneses no dia a dia. Mas nada como saber como esta cultura chegou até os nossos dias, por quais mãos e como sobreviveu através dos tempos”, lembra Edson, presidente da Nipo.