Reportagem portuguesa sobre a imigração japonesa em São Paulo

É interessante notar como somos vistos no exterior. Esta matéria portuguesa sobre a imigração me pareceu muito interessante:
Brasil: Imigração transformou São Paulo na mais japonesa das cidades fora do Japão - RTP Notícias

Brasil: Imigração transformou São Paulo na mais japonesa das cidades fora do Japão

São Paulo, Brasil, 22 Fev (Lusa) - A imigração japonesa para o Brasil, cujo centenário é assinalado este ano com uma extensa programação comemorativa, transformou São Paulo na mais japonesa das cidades fora do Japão.

Estimativas mostram que há cerca de um milhão de japoneses e seus descendentes na cidade, o que faz com que pelo menos um entre cada dez moradores de São Paulo tenha traços orientais.

A presença japonesa estende-se desde a gastronomia, com dezenas de restaurantes especializados, regiões da cidade especialmente decoradas com símbolos orientais até os media, com jornais publicados em japonês.

Descendente de japoneses, a realizadora brasileira Tizuka Yamasaki salienta que a presença japonesa é tão marcante que chega a fazer parte da paisagem humana da maior cidade brasileira.

"Tem uma comunidade bastante forte, você vê japoneses na rua, faz parte do quotidiano do paulistano", disse Yamasaki, autora de "Gaijin - Os Caminhos da Liberdade" (1980), filme inspirado na imigração de sua própria família.

A região com mais forte influência japonesa é o bairro da Liberdade, na zona central da cidade, com a maior concentração de oferta de iguarias e produtos japoneses.

No início, os primeiros imigrantes escolheram a Liberdade porque quase todas as casas da região tinham caves, e o aluguer de quartos no subsolo era barato.

Actualmente, as ruas da Liberdade, com uma decoração tipicamente oriental, são referência para os descendentes, local de encontro, de manifestações e de feiras livres, com iguarias japonesas.

Na região, é possível adquirir jornais em japonês, como o tradicional São Paulo Shimbum, criado em Outubro de 1946 por imigrantes japoneses.

O início da imigração japonesa ao Brasil decorreu no dia 28 de Abril de 1908, quando o navio Kasado-Maru deixou o porto de Kobe em direcção à cidade de Santos, no litoral do Estado de São Paulo, com 791 japoneses.

Os primeiros imigrantes foram contratados como mão de obra barata para trabalhar nas plantações de café do interior do Estado de São Paulo, depois do fim da escravidão de negros, no final do século XIX.

Após seis meses nas lavouras de café, mais da metade dos imigrantes deixou as propriedades rurais e mudou-se para a capital São Paulo e para outros estados brasileiros, como Paraná e Mato Grosso.

A imigração continuou até ao início da II Guerra Mundial (1939-1945), período em que os japoneses foram vistos com desconfiança no Brasil.

Na época, o Brasil rompeu relações diplomáticas, declarou guerra aos países do eixo (Alemanha, Itália e Japão), e enviou tropas para integrar as forças aliadas na Europa.

Nessa época, os imigrantes sofreram uma série de restrições, com o fecho de escolas, a proibição de jornais em japonês, situação que foi normalizada com a rendição do Japão, em 1945.

Com a derrota na II Guerra, o fluxo migratório foi retomado, dessa vez com a chegada de japoneses para trabalhar nas indústrias.

Na década de 80, com a crise económica brasileira, muitos descendentes de japoneses fizeram o caminho inverso, em busca de melhores oportunidades de vida.

São os chamados dekasseguis, num total de cerca de 300.000, espalhados por várias cidades japonesas e responsáveis actualmente pelo envio de cerca de 600 milhões de dólares por ano.

As celebrações do centenário da imigração incluem mais de 400 eventos, nos dois países, como exposições, festivais de cinema, concertos e seminários, no "Ano do Intercâmbio Brasil-Japão".

O ponto alto das celebrações será a visita do príncipe Naruhito, herdeiro do trono do Japão, no dia 21 de Junho, ao Brasil.

Em São Paulo, a artista plástica Tomie Ohtake, um dos mais importantes nomes da cultura japonesa, no Brasil, criou uma escultura em aço de nove metros de diâmetro, em formato de ondas vermelhas, para assinalar o centenário.

A obra será instalada nos jardins do aeroporto internacional de São Paulo, que passou a ser no lugar do Porto de Santos, no século passado, o local de entrada dos novos visitantes e imigrantes japoneses.

Na área desportiva, um dos principais destaques dentre os descendentes japoneses é o jogador de ping-pong Hugo Hoyama, recordista brasileiro de medalhas em Jogos Pan-Americanos, com 14 medalhas.