Café, o começo de tudo...

No dia 18 de junho de 2007, a comunidade nipo-brasileira comemora 99 anos da imigração japonesa no País. Os primeiros 781 nipônicos, que desembarcaram no Porto de Santos depois de 52 dias de viagem a bordo do navio Kasato Maru, foram levados para as fazendas Floresta, em Itu, Sobrado, em São Manoel, Canaã, Dumont, Guatapará e São Martinho, na região de Ribeirão Preto. Em comum, cidades prósperas do interior de São Paulo e com grandes lavouras cafeeiras, maior riqueza brasileira da época.

Foi a partir do café também que os imigrantes japoneses deram uma de suas maiores contribuições ao Brasil: a ajuda ao desenvolvimento agrícola. “Até o século XIX, o Brasil só vivia da cana, algodão e café e tinha uma mão-de-obra sem qualquer qualificação. Os imigrantes mudaram esse cenário a partir dos alemães em 1824. Em 1875, os italianos nos ensinaram a cultivar o arroz irrigado, a uva e o trigo. E a partir de 1908, os japoneses representaram uma evolução fantástica na área do café e rapidamente desenvolveram outras produções. Eles traziam uma cultura agrícola que não existia no Brasil”, diz Marcus Vinícius Pratini de Moraes, ministro da Agricultura na gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso, entre 1999 e 2002.

Na verdade, sabe-se que, historicamente, os japoneses encaminhados às seis fazendas cafeeiras não vieram ao Brasil para fixar residência. Muito pelo contrário. O contrato, efetuado entre o governo paulista e a Companhia Imperial de Imigração Tokio-Japão em 6 de novembro de 1907, previa que os imigrantes nipônicos ficassem por aqui por um período de cinco anos. Seria o tempo suficiente para a constituição de uma reserva financeira para recomeçar a vida do outro lado do mundo.


HISTÓRIA - Primeiras levas de imigrantes japoneses foram trazidas para trabalhar nas lavouras de café do interior de São Paulo

O sonho de ganhar dinheiro em uma curta temporada no Brasil tornou-se, no final das contas, algo utópico. Aliás, ainda no primeiro ano de contrato, apenas uma pequena parcela ficou nas fazendas que receberam a leva de trabalhadores do Kasato Maru. O restante foi tentar a sorte, no primeiro momento, em outras regiões do então sertão do Estado de São Paulo, e mais tarde no Paraná e Triângulo Mineiro. A partir de 1910 começam a surgir os primeiros sinais para a formação dos núcleos coloniais, importantes peças na constituição das comunidades agrícolas.

Com muita força de vontade, os imigrantes japoneses foram conquistando espaço na agricultura do País. De dedicados funcionários passaram a notórios proprietários de terras. Esse processo intensificou-se a partir de 1926, quando o governo japonês passou a
investir e subsidiar a compra de lotes, distribuindo-os a preços acessíveis a quem tivesse interesse.

Já na década de 30, a importância dos imigrantes japoneses na agricultura brasileira poderia ser medida pelos números. Em 1931, por exemplo, a produção de caroço de algodão dos nipônicos representava 31% da produção paulista. Eles também começavam a ganhar destaque nos cultivos de feijão, amendoim, mandioca, cebola, bicho-da-seda, chá e batata.”O agricultor japonês é e sempre foi sistemático. É disciplinado, organizado e trabalhador. Além de tudo isso, tem o dom natural de cuidar de plantas”, argumenta Pratini de Moraes, ao justificar o sucesso dos japoneses no País.

Os imigrantes e seus filhos passaram a ser admirados pelo desenvolvimento que deram ao setor agrícola. São os precurssores na introdução de novas técnicas que aumentaram a produção e a qualidade dos produtos. Também foram os primeiros a fazer uso de fertilizantes e inseticidas na lavoura.

Hoje, o agronegócio é responsável por 33% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, 42% das exportações tupiniquins e 37% dos empregos no País. Com 388 milhões de hectares de terras agricultáveis férteis e de alta produtividade, além de outros 90 milhões ainda a serem explorados, o Brasil é o campeão mundial na produção de café, açúcar, álcool e sucos de frutas. “Parte desse sucesso deve ser creditado aos nossos imigrantes. Foi também graças a chegada deles, que o Brasil e o Japão acertaram convênios de cooperação agrícola. Usufruímos de alta tecnologia e experiências extremamente válidas, que foram proveitosas para que a agricultura brasileira viesse a ser o que é hoje”, revela Bonifácio Hideyuki Nakasu, ex-diretor-executivo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

(Texto: Helder Horikawa/NB | Foto: Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil)