Os brasileiros no Japão e a dificuldade com a língua japonesa (e costumes também). | Burajiru!

Os brasileiros no Japão e a dificuldade com a língua japonesa (e costumes também). | Burajiru!


Esses extrangeiros no Brasil, ao contrário de nós nikkeys (e aqui incluo os cônjuges não descendentes também), não tinham laços com nossa terra brasilis.

Brasil JapãoO que acontece então?

É o que eu gostaria de saber, ou entender.
Por que nossa comunidade encontra tanta dificuldade com o idioma? Por que tanta dificuldade em se adaptar à cultura e costumes locais?

Seria o trabalho?

Ora bolas, mas será mesmo que somente os nikkeys que vivem no Japão trabalham?
Quando me lembro da minha família no Brasil, e outras famílias nikkeys conhecidas, a lembrança que tenho é de gente que só pensava em trabalhar.
Meu pai, engenheiro eletrônico por competência, quando se aposentou teve alguns pequenos negócios por conta. Me lembro que antes de uma dessas empresas deslanchar, ele cerrava as portas às 6 da tarde, mas continuava trabalhando até as 7, 8 horas da noite (nós morávamos nos fundos).
Meus tios sempre estavam trabalhando também: um tio meu tinha um bar a 4 quadras da Autolatina em São Paulo, e minha tia passava dia e noite cozinhando marmitas para alguns funcionários que faziam encomendas com ela. Outro tio vivia dia e noite atrás de eventos para fazer fotos. Uma tia minha costurava dia e noite. Outra tia mantinha uma rede de lojas de roupas populares (prá povão), ela praticamente dormia na loja principal a fim de deixar tudo organizado e esquematizado.
Uma família nikkey vizinha nossa, quando morávamos em Arujá (40 km de São Paulo) era verdureira.
Eu ia à escola às 6 da manhã (para tomar leite quente com as amigas, bons tempos) e ao passar na frente das 4 casas dessa família (eles tinham um quarteirão só deles) já se via a movimentação frenética da “japaiada”, uns limpando alfaces, outros carregando caixas para o caminhão, outros martelando novas caixas de madeira….

Se formos analisar essa questão do tempo que nos falta por causa de trabalho, no Brasil dos “brasileiros da gema” não é muito diferente: quem mora na capital de São Paulo perde muito tempo no trânsito na ida e volta do trabalho. Mesmo que um paulistano tenha uma carga horária de 8 horas de trabalho diário, a probabilidade desse trabalhador chegar às 6 da tarde em casa é quase nula.
Se o problema não for o trânsito, é o salário: muitos tem mais de um emprego.

Não, não podemos colocar a culpa na falta de tempo e no trabalho: afinal, no mundo inteiro se trabalha, e muitos conseguem arrumar tempo para suas coisas, seja estudar, aprender uma nova língua (ou língua local, no caso dos extrangeiros), para lazer e para a família (FILHOS).
E temos que aceitar que hoje no Japão, apesar de ainda existirem os empregos com carga horária de 14 horas diárias, eles se tornaram poucos, e são muitos os brasileiros que não aceitam fazer mais que 2 horas extras diárias, seja por ter formado família, seja por ser jovem e querer curtir a vida (ou um recém comprado carrão). Isso sem falar nos que querem fazer hora-extras mas não as fazem pela falta delas.

E então?

Hoje no Japão, não é mais em todo o lugar que se vive o preconceito à flor da pele: sim, ele ainda existe, mas quem hoje reclama de preconceito não sabe como era a reação dos japoneses com os brasileiros a 15 anos atrás por exemplo. Alguém aí se lembra dos casos Ana Bortz e Luckosevicius? Pois é.
Porém, essa questão do preconceito e da não-aceitação dos nikkeys como sendo parte dessa nação já está enraigado, “encruado” como diria minha avó materna.
Por mais que algum brasileiro viva em alguma vilazinha de interior, que conheça todos os vizinhos e seja tratado com respeito na prefeitura de sua cidade, o fantasma do preconceito parece sempre rondar.

Mas o que tem a ver o preconceito com as dificuldades?
TUDO.
Que motivação alguém terá em se adaptar a um local que o despreza? Pois então.
Lembro-me que quando cheguei aqui, eu devorava livros do tipo “365 kanjis por ano”, “kaiwa book” entre outros que ensinam o idioma japonês para quem tem a língua portuguesa como língua primária.
Mas lembro-me também que a cada humilhação que eu passava (ou julgava passar, nem tudo é tão duro) eu deixava de abrir meus livros por dias…
Sim, essa raiva de japonês que muitos brasileiros declaram sentir nos trava, se temos raiva de japonês, porque falar como um?
Por que se adaptar a um local que nos parece tão hostil?

Penso que somente se conseguirmos quebrar essa barreira do preconceito dentro de nós mesmos seremos livres e mais receptivos ao idioma, cultura e costumes nipônicos.

Se você pensa como eu pensava a anos atrás, que não se dedica ao aprendizado e aperfeiçoamento do japonês e adaptação da cultura e costumes em razão da carga horária puxada, te convido a refletir um pouco sobre as palavras acima.
O trabalho e falta de tempo não deveriam nos servir de desculpa, enquanto nos desculparmos pela falta de tempo, estaremos “tapando o sol com a peneira” para nossos verdadeiros motivos. Que podem ser ou não os que listei.

Avareza … de tempo.

É bem verdade que hoje em dia as pessoas estão muito egoístas, ninguém quer perder tempo com nada, ninguém quer se doar.
Se a anos atrás ninguém queria doar 100 cruzeiros que fosse a pessoas necessitadas, a recusa dos tempos modernos é de tempo. Estamos deixando de doar tempo às pessoas queridas, à família, aos estudos, e infelizmente até mesmo aos nossos filhos. E usamos esse tempo não doado com o quê?

Seja mais generoso com o tempo que você consegue ter.

PS: isso não é um estudo ou pesquisa. Apenas o que penso sobre o assunto. E você, o que pensa sobre isso?

Dicionário Japonês-Português
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Michaelis Dicionário Prático: Português - Japonês
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Guia de Japonês para Viagem
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